E se nada der certo? Eu teria que ter um segundo plano. Um tipo de estratégia feita especialmente para o caso de uma inversão na historia. E ai que esta, que plano? Essa é uma espécie de segunda opção na qual eu nunca havia pensando antes.
Aí, bolei o que é que eu devia fazer: ia fingir que era surda-muda. Desse modo, não precisava ter nenhuma conversa imbecil e inútil com ninguém. Se alguém quisesse me dizer alguma coisa, teria que escrever o troço num pedaço de papel e me entregar. Depois de algum tempo iam ficar um bocado aporrinhados de ter que fazer tudo isso, e aí eu nunca mais precisaria ter nenhuma conversa com pessoas hipócritas pelo resto da minha vida. Todo mundo ia pensar que eu era só uma infeliz duma filha da mãe surda-muda, e iam me deixar em paz sozinha.
Dessa forma, eu não iria mais reclamar dos noticiários que (infelizmente) só enfatizam a corrupção e a violência, não iria falar mal de um desconhecido por jogar a bosta do lixo no chão e muito menos escutar os problemas ambientas refletidos e ignorados por essa merda de população que só se preocupa em satisfazer o próprio ego.
Eu viveria sozinha, na minha. Se quisesse casar ou coisa parecida, ia encontrar um garoto bonito, também surdo-mudo, e nos casaríamos. Ele viria viver comigo na cabana e, se quisesse me dizer alguma coisa, teria que escrever numa porcaria dum pedaço de papel, como todo mundo. Se tivéssemos filhos, iam ficar escondidos em algum canto. Podíamos comprar uma porção de livros para eles e nós mesmos íamos ensiná-los a ler e escrever.